A INQUIETANTE INQUIETUDE DO SER
THE UNEASY RESTLESSNESS OF BEING
A voz da alma esmurra o peito querendo sair, mas o barulho do mundo não me permite ouvi-la. Nossa, que agonia! Há tanta inquietude à nossa volta que perdemos o contato com a vida, com o pulsar divino dentro de nós, e a mente desassossegada não consegue desligar a sua tagarelice com o mundo lá fora.
Fico pensando com meus botões... como as pessoas são desassossegadas, como não conseguem se aquietar e deixar que os outros se aquietem! A vizinha não fecha portas e janelas: ela as bate. E o outro bate a porta do elevador. E uma buzina infernal me chega da rua, enquanto outro carro passa berrando um funk no mais alto volume, como se o mundo inteiro fosse obrigado a gostar da música que o outro gosta. E o telefone que não pára de tocar?
A natureza é sábia e obedece a hora de se calar. Nós não ouvimos os pássaros cantando à noite, nem os gatos miando..., os vagalumes - que são da noite - acendem suas lanternas, mas voam em silêncio, respeitando o direito dos outros de usufruirem da quietude. A Natureza tem seus códigos de respeito impressos na essência das criaturas, mas nós, humanos, perdemos essa conexão e nos perdemos. Nós humanos precisamos de uma droga de "Lei do Psiu" para, sob o chicote da justiça, permitirmos à contra-gosto que os outros tenham um pouco de sossego. Eu ouço Michael 25 horas por dia, mas com um fone de ouvido, e o deixo arrebentar prazerosamente meus tímpanos com seus gritinhos e beat-boxes.
Alguns cães latem à noite, neurotizados por seus neuróticos donos; sim, porque não dá para um cão permanecer normal, ou seja, ligado à sua natureza, tendo que usar roupas, sapatos, toucas, maria-chiquinhas nos pelos da cabeça, passarem horas em um salão de beleza, além de viverem confinados em um cubículo de 50 metros quadrados, sem poder tomar sol ou correr pelos campos. Ele se "humaniza" e se torna tão inquietante quanto seus inquietos donos.
As pessoas não suportam a quietude porque isso significa ficarem a sós consigo mesmas, serem obrigadas a ouvir a voz interna e a se olharem no espelho. Mas não o espelho enorme do quarto que evidencia todas as celulites, gorduras localizadas e a indesejável flacidez; muito menos o espelho do banheiro, que denuncia as malditas rugas. Estou falando do espelho da alma, aquele que pode lhe mostrar uma imagem que você não conhece e, porque não conhece, tem medo de olhar. É a insuportável convivência de si mesmo. E correm para o mundo lá fora a inquietar-se e inquietar tudo e todos à sua volta.
De ontem para hoje, eu tive que passar a noite em claro para poder escrever, para poder dar forma à voz da minha alma. Tive que esperar a tagarelice do mundo finalmente diminuir (calar nunca, né?) para conseguir acrescentar algumas páginas aos meus textos. É torturante! Quem dera eu tivesse domínio suficiente sobre minha mente para condicioná-la a deixar lá fora a inquietação da vida moderna e da deseducação das pessoas, e eu pudesse manter a concentração mesmo que o burburinho dos inconscientes nunca se abrandasse!
Como eu entendo Michael, meu Amor e meu Mestre! Ele nunca foi recluso... isolava-se para poder manter contato consigo mesmo sem os olhos expiões e o murmurar insano das vozes do mundo. Sempre foi quieto, centrado, sem medo de dar de cara com seu espelho interno: "Man In The Mirror"! Ele sempre disse que dormia pouco e hoje eu entendo o porquê. Com o poder de criação que borbulhava dentro de si e tendo que esperar o mundo se calar, não sobrava tempo para dormir mesmo; pelo menos não nas madrugadas. E graças ao seu "não dormir", ao seu "calar" e à sua capacidade de mirar o "espelho", o mundo herdou um grande e profundo legado de Amor.
Aprendam com Michael a calar-se. Escutem a sua quietude... uma quietude que fala todas as línguas, ultrapassa todas as fronteiras da mente e penetra todas as almas; mesmo aquelas que ainda não se sentem penetradas. Ele está quieto para que nós nos inquietemos, reflexionemos e busquemos a Verdade onde ela realmente se esconde. Ele está nos ensinando a aquietar a mente para que a alma se expanda e se expresse, lance para fora a sua Sabedoria, sepultada por milênios de mordaças e manipulações.
Michael é um dínamo
que nos inquieta e aquieta ao mesmo tempo.