Elucidação sobre a televisão
Por Eckhart Tolle
Para um número significativo de pessoas, ver televisão é algo
“relaxante”. Observe a si mesmo e verá que, quanto mais tempo sua atenção
permanece tomada pela tela, mais sua atividade intelectual se mantém suspensa.
Assim, por longos períodos, você estará assistindo atrações como
programas de entrevistas, jogos, shows de variedades, quadros de humor e, até
mesmo, anúncios sem que quase nenhum pensamento seja gerado pela sua mente.
Você não apenas deixa de se lembrar dos seus problemas como se torna
livre de si mesmo por um tempo – e o que poderia ser mais relaxante do que
isso?
Então, ver televisão cria o espaço interior? Será que isso nos faz
entrar no estado de presença? Infelizmente, não é o que acontece.
Embora a mente possa ficar sem produzir nenhum pensamento por um bom
tempo, ela permanece ligada à atividade do pensamento do programa que está
sendo exibido. Mantém-se associada à versão televisiva da mente coletiva e
segue absorvendo seus pensamentos.
Sua inatividade é apenas no sentido de que ela não está gerando
pensamentos. No entanto, continua assimilando os pensamentos e as imagens que
chegam à tela. Isso induz um estado passivo semelhante ao transe, que aumenta a
suscetibilidade, e não é diferente da hipnose.
É por isso que a televisão se presta à manipulação da “opinião pública”,
como é do conhecimento de políticos, de grupos que defendem interesses
específicos e de anunciantes – eles gastam fortunas para nos prender no estado
de inconsciência receptiva. Querem que seus pensamentos se tornem nossos
pensamentos e, em geral, conseguem.
Portanto, quando estamos vendo televisão, nossa tendência é cair abaixo
do nível do pensamento, e não nos posicionarmos acima dele. A TV tem isso em
comum com o álcool e com determinadas drogas. Embora ela nos proporcione um
pouco de alívio em relação à mente, mais uma vez pagamos um preço alto: a perda
da consciência.
Assim como as drogas, essa distração tem uma grande capacidade de
viciar. Procuramos o controle remoto para mudar de canal e, em vez disso, nos
vemos percorrendo todas as emissoras.
Meia hora ou uma hora mais tarde, ainda estamos ali, passeando pelos
canais. O botão de desligar é o único que nosso dedo parece incapaz de apertar.
Continuamos olhando para a tela. Porém, normalmente não porque algo
significativo tenha chamado nossa atenção, e sim porque não há nada
interessante sendo transmitido.
Depois que somos fisgados, quanto mais trivial e mais sem sentido é a
atração, mais intenso se torna nosso vício.
Se isso fosse estimulante para o pensamento, motivaria nossa mente a
pensar por si mesma de novo, o que é algo mais consciente e, portanto,
preferível a um transe induzido pela televisão. Dessa forma, nossa atenção
deixaria de ser prisioneira das imagens da tela.
O conteúdo da programação, caso apresente alguma qualidade, pode até
certo ponto neutralizar, e algumas vezes até mesmo desfazer, o efeito hipnótico
e entorpecedor da TV. Existem determinados programas que são de uma utilidade
extrema para muitas pessoas – mudam sua vida para melhor, abrem seu coração,
fazem com que se tornem mais conscientes.
Há também algumas atrações humorísticas que acabam sendo espirituais,
mesmo que não tenham essa intenção, por mostrarem uma versão caricata da
insensatez humana e do ego.
Elas nos ensinam a não levar nada muito a sério, a permitir um pouco
mais de descontração e leveza em nossa vida. E, acima de tudo, nos ensinam isso
enquanto nos fazem rir. O riso tem uma extraordinária capacidade de liberar e
curar.
Contudo, a maior parte do que é exibido na televisão ainda está nas mãos
de pessoas que são totalmente dominadas pelo ego. Assim, a intenção oculta da
TV é nos controlar nos colocando para dormir, isto é, deixando-nos
inconscientes.
Evite assistir programas e anúncios que o agridam com uma rápida
sucessão de imagens que mudam a cada dois ou três segundos, ou menos. O hábito
de assistir televisão em excesso e essas atrações em particular são duas causas
importantes do transtorno de déficit de atenção, um distúrbio mental que vem
afetando milhões de crianças em todo o mundo.
A atenção deficiente, de curta duração, torna todos os nossos
relacionamentos e percepções superficiais e insatisfatórios. Qualquer coisa que
façamos nesse estado, qualquer ação que executemos, carece de qualidade, pois a
qualidade requer atenção.
O hábito de ver televisão com frequência e por longos períodos não só
nos deixa inconscientes como induz a passividade e drena toda a nossa
energia. Portanto, em vez de assistir TV ao acaso, escolha os programas
que despertam seu interesse.
Enquanto estiver diante dela, procure sentir a vívida atividade dentro
do seu corpo – faça isso toda vez que se lembrar. De vez em quando, tome
consciência da sua respiração. Desvie os olhos da tela em intervalos
regulares, pois isso evitará que ela se aposse completamente do seu sentido
visual.
Não ajuste o volume acima do necessário para que a televisão não o
domine no nível auditivo. Tire o som durante os intervalos.
Procure não dormir logo após desligar o aparelho ou, ainda pior,
adormecer com ele ligado.
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Eckhart Tolle - trechos do livro "O Despertar de Uma Nova Consciência" - Editora Sextante.
Autor: Eckhart Tolle
Fonte primária: http://www.eckharttolle.com/
Fonte secundária: De Coração a Coração
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