A ALQUIMIA DO
BODHISATTVA - LXI
“MICHAEL JACKSON,
O
MENSAGEIRO FERIDO”
By Matt Semino
Matt Semino é advogado e colunista de New York, graduado
pela Faculdade de Direito de Columbia/EUA – Cornell University.
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Michael
Jackson era um mensageiro com uma mensagem espiritual – faça a mudança, torne o
mundo um lugar melhor. “This is It”, o filme sobre seu show de retorno
planejado, apresenta Michael vivendo sua missão, não só no que ele está dizendo,
mas no que ele está sendo. Dispõe de um homem cujo talento era muito forte para
ele conter e grande demais para esconder, alguém que estava à frente do seu tempo
e nada, senão incompreendido.
Através
de seu corpo prolífico de trabalho, iniciativas de advocacia e vários milhões
de dólares em esforços humanitários, Michael Jackson chamou a atenção
internacional e suporte para alguns dos problemas mais complexos e atemporais
que confrontam a condição humana.
AIDS,
câncer, fome, pobreza, violência de gangues, racismo, totalitarismo, degradação
ambiental, abuso de crianças, violações dos direitos dos animais, restrições à
liberdade de expressão e outras infrações sobre liberdades civis básicas são
apenas alguns dos temas difíceis que Jackson abordou ao alavancar o poder de
sua celebridade.
A
compreensão intuitiva de Michael Jackson sobre os problemas que afligem o
sistema ecológico humano era atípica para qualquer artista perto de sua
magnitude. Muitos ficaram tão deslumbrados com o carisma magistral de Jackson e
a controvérsia consistente em torno de sua vida e morte que seria fácil não
reconhecer os temas sociais e políticos fundamentais consagrados em suas
músicas, vídeos e entrevistas públicas.
A
atração emocional intensa, as mensagens e sentimentos que reverberam através
das letras e, às vezes, as imagens perturbadoras nos vídeos de canções como They Don’t Care About Us, Heal The World,
Earth Song e Man In The Mirror
são angustiantes. Uma análise mais aprofundada do trabalho de Michael Jackson
revela um indivíduo com uma preocupação ardente para melhorar a vida dos mais
desfavorecidos e perseguidos em todo o mundo.
A
paixão e entusiasmo com os quais Jackson escava as mãos no solo e agarra as
árvores em seu vídeo Earth Song, uma peça de ópera, onde ele aborda o
meio-ambiente e bem-estar dos animais, é um reflexo de um líder humanitário que
se preocupa profundamente sobre as questões que desafiam.
Eventos
globais, nas semanas que cercaram a morte de Jackson, espelham diretamente os
problemas complexos para os quais ele tentou sensibilizar, a nível
internacional.
No
Irã, e diante dos olhos do mundo, manifestações civis foram esmagadas e vítimas
inocentes, como o jovem Neda Agha-Soltan, foram brutalmente assassinadas por
instrumentos de um estado totalitário. Em Washington D.C, a supremacia branca,
motivada pelo ódio puro, tentou uma matança no museu Memorial do Holocausto,
nos EUA, matando um guarda afro-americano em sua fúria. Na Coreia do Norte, as
jornalistas americanas Laura Ling e Euna Lee foram injustamente condenadas a 12
anos de trabalhos forçados para servirem meramente como moeda de troca
internacional para um ditador do mal.
Michael
Jackson falou bem alto contra estas formas de racismo e repressão, e tentou
incendiar a nossa paixão para que impeçamos a continuação de tais abusos,
negligência e discriminação. Como nós estamos respondendo a essa mensagem,
quando ela é ainda mais crucial para que seja absorvida na mente do público?
Não somente os gritos de despertar de Michael Jackson continuam a ser ignorados,
mas a sua reputação continua a ser manchada.
Muitos
podem se perguntar por que essa figura controversa – um homem que tem sido alvo
de intensas críticas e reação pública – deva receber tal gravidade na
elaboração do discurso público sobre os tópicos mais importantes. Às vezes, é
preciso uma pessoa, e não apenas um líder político ou espiritual, que se
destaque simbolicamente a partir do resto da sociedade para fazer com que a
sociedade reflita sobre os princípios que ela segue e os valores que abraça.
Jackson,
ao longo de sua vida e na sua morte, foi ridicularizado e reverenciado,
vilipendiado e alardeado. Em muitos aspectos, sua história representa os agudos
mais altos e mais baixos possíveis que a vida pode apresentar a um ser humano.
O
enorme talento de Michael Jackson, o sucesso, a riqueza e a adoração pública
estavam em desacordo com a sua extrema solidão, medo, dependência e destruição
da reputação pela opinião pública. No final, Michael Jackson era muito mais do
que um artista. Suas contribuições para o campo do entretenimento são, sem
dúvida, profundas. No entanto, é o seu amplo impacto cultural que transcende
verdadeiramente as barreiras econômicas, sociais, políticas, raciais,
religiosas e geracionais.
Jackson
deixou de ser somente um performer mágico para se tornar um humanitário de
importância história. Ele era um mensageiro moderno, um contador de histórias,
um visionário que elevou o nível de consciência dos cidadãos através das
fronteiras nacionais. Este nível de contribuição é o que se exigiria daqueles
que são abençoados com dons naturais, poder e riqueza.
Não
deveríamos, então, aceitar e apoiar as pessoas que estão destinadas para esta
missão de vida, em vez de ridicularizá-las? À medida que a história avança e os
símbolos do trabalho de Jackson são analisados em conjunto com o desenvolver
dos acontecimentos humanos, a relevância cultural importante de sua pessoa será
descoberta. Como um pedaço de literatura grega clássica que incorpora temas intemporais
de luta e sofrimento humano, o corpo de trabalho de Michael Jackson virá a
ocupar um lugar semelhante no panteão cultural da modernidade.
Por
que, então, foi necessário matar o mensageiro? Ao refletirmos sobre a vida de
Michael Jackson, e agora sobre a morte, é difícil não nos sentirmos tristes
pelo homem e vê-lo sob uma luz trágica. Com todo o seu poder, riqueza e fama,
ele agora está diante de nós como um pássaro esmagado depois de ser bombardeado
várias vezes por muitas pedras. Abatido, Jackson continuou a se isolar, com
medo do que o mundo com o qual ele se importava tão profundamente em mudar para
melhor, estivesse jogando contra ele.
Michael
Jackson foi um Sísifo moderno, o homem da lenda condenado a empurra
repetidamente uma rocha acima de uma montanha só para vê-la rolar para baixo. Infelizmente,
porém, o nosso Sísifo entrou em colapso sob o peso de sua luta.
Michael
Jackson foi inflado para a posição de uma divindade Pop, uma figura mítica,
apenas para ser crucificado e apedrejado pelos deuses da mídia que criaram o
seu sucesso. Suas excentricidades saíam do comportamento padrão socialmente
aceitáveis, mas seriam elas necessariamente ilegais ou erradas? Não.
A
maior parte das ações de Michael Jackson era pouco convencional, mas, ao mesmo
tempo, não eram a grandeza de sua celebridade e situação global além de
qualquer coisa que a cultura moderna já testemunhou? Sua grandeza, sua
excentricidade: uma influenciava a outra.
É
inegável que a imensa fama e riqueza lhe permitiram se afastar da sociedade e
observar o mundo a partir de um ponto de vista privilegiado. Às vezes, porém, é
necessária esta posição privilegiada e isolada para ser capaz de fazer as
observações sociais menos poluídas e, finalmente, produzir o comentário social
mais eficaz, através da arte.
Ao
longo da história, o trabalho e as vidas de vários artistas têm sido
ridicularizados e desprezados pelo público durante o seu auge, apenas para
serem colocados postumamente no cânone dos grandes. É, sem dúvida, o que irá
acontecer com Michael Jackson, no devido tempo, angariar esse mesmo nível de
aclamação da crítica como um artista e, mais importante, como um humanitário.
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Trechos selecionados do
texto “Celebrity Scales: Michael Jackson, the wounded Messenger: Star – Studed
Legal Commentary for the Celebrity Obsessed”, escrito por Matt Semino e
publicado em 18/07/2009.