CARO LEITOR: PARA OUVIR OS VÍDEOS, DESLIGUE O PLAY-LIST NO RODAPÉ DA PÁGINA. NAVEGUE COM A. M. O. R.

domingo, 18 de dezembro de 2016

A ALQUIMIA DO BODHISATTVA - LXI


“MICHAEL JACKSON,
O MENSAGEIRO FERIDO”

By Matt Semino

Matt Semino é advogado e colunista de New York, graduado pela Faculdade de Direito de Columbia/EUA – Cornell University.
_________________________

Michael Jackson era um mensageiro com uma mensagem espiritual – faça a mudança, torne o mundo um lugar melhor. “This is It”, o filme sobre seu show de retorno planejado, apresenta Michael vivendo sua missão, não só no que ele está dizendo, mas no que ele está sendo. Dispõe de um homem cujo talento era muito forte para ele conter e grande demais para esconder, alguém que estava à frente do seu tempo e nada, senão incompreendido.

Através de seu corpo prolífico de trabalho, iniciativas de advocacia e vários milhões de dólares em esforços humanitários, Michael Jackson chamou a atenção internacional e suporte para alguns dos problemas mais complexos e atemporais que confrontam a condição humana.

AIDS, câncer, fome, pobreza, violência de gangues, racismo, totalitarismo, degradação ambiental, abuso de crianças, violações dos direitos dos animais, restrições à liberdade de expressão e outras infrações sobre liberdades civis básicas são apenas alguns dos temas difíceis que Jackson abordou ao alavancar o poder de sua celebridade.

A compreensão intuitiva de Michael Jackson sobre os problemas que afligem o sistema ecológico humano era atípica para qualquer artista perto de sua magnitude. Muitos ficaram tão deslumbrados com o carisma magistral de Jackson e a controvérsia consistente em torno de sua vida e morte que seria fácil não reconhecer os temas sociais e políticos fundamentais consagrados em suas músicas, vídeos e entrevistas públicas.

A atração emocional intensa, as mensagens e sentimentos que reverberam através das letras e, às vezes, as imagens perturbadoras nos vídeos de canções como They Don’t Care About Us, Heal The World, Earth Song e Man In The Mirror são angustiantes. Uma análise mais aprofundada do trabalho de Michael Jackson revela um indivíduo com uma preocupação ardente para melhorar a vida dos mais desfavorecidos e perseguidos em todo o mundo.

A paixão e entusiasmo com os quais Jackson escava as mãos no solo e agarra as árvores em seu vídeo Earth Song, uma peça de ópera, onde ele aborda o meio-ambiente e bem-estar dos animais, é um reflexo de um líder humanitário que se preocupa profundamente sobre as questões que desafiam.

Eventos globais, nas semanas que cercaram a morte de Jackson, espelham diretamente os problemas complexos para os quais ele tentou sensibilizar, a nível internacional.

No Irã, e diante dos olhos do mundo, manifestações civis foram esmagadas e vítimas inocentes, como o jovem Neda Agha-Soltan, foram brutalmente assassinadas por instrumentos de um estado totalitário. Em Washington D.C, a supremacia branca, motivada pelo ódio puro, tentou uma matança no museu Memorial do Holocausto, nos EUA, matando um guarda afro-americano em sua fúria. Na Coreia do Norte, as jornalistas americanas Laura Ling e Euna Lee foram injustamente condenadas a 12 anos de trabalhos forçados para servirem meramente como moeda de troca internacional para um ditador do mal.

Michael Jackson falou bem alto contra estas formas de racismo e repressão, e tentou incendiar a nossa paixão para que impeçamos a continuação de tais abusos, negligência e discriminação. Como nós estamos respondendo a essa mensagem, quando ela é ainda mais crucial para que seja absorvida na mente do público? Não somente os gritos de despertar de Michael Jackson continuam a ser ignorados, mas a sua reputação continua a ser manchada.

Muitos podem se perguntar por que essa figura controversa – um homem que tem sido alvo de intensas críticas e reação pública – deva receber tal gravidade na elaboração do discurso público sobre os tópicos mais importantes. Às vezes, é preciso uma pessoa, e não apenas um líder político ou espiritual, que se destaque simbolicamente a partir do resto da sociedade para fazer com que a sociedade reflita sobre os princípios que ela segue e os valores que abraça.


Jackson, ao longo de sua vida e na sua morte, foi ridicularizado e reverenciado, vilipendiado e alardeado. Em muitos aspectos, sua história representa os agudos mais altos e mais baixos possíveis que a vida pode apresentar a um ser humano.

O enorme talento de Michael Jackson, o sucesso, a riqueza e a adoração pública estavam em desacordo com a sua extrema solidão, medo, dependência e destruição da reputação pela opinião pública. No final, Michael Jackson era muito mais do que um artista. Suas contribuições para o campo do entretenimento são, sem dúvida, profundas. No entanto, é o seu amplo impacto cultural que transcende verdadeiramente as barreiras econômicas, sociais, políticas, raciais, religiosas e geracionais.

Jackson deixou de ser somente um performer mágico para se tornar um humanitário de importância história. Ele era um mensageiro moderno, um contador de histórias, um visionário que elevou o nível de consciência dos cidadãos através das fronteiras nacionais. Este nível de contribuição é o que se exigiria daqueles que são abençoados com dons naturais, poder e riqueza.

Não deveríamos, então, aceitar e apoiar as pessoas que estão destinadas para esta missão de vida, em vez de ridicularizá-las? À medida que a história avança e os símbolos do trabalho de Jackson são analisados em conjunto com o desenvolver dos acontecimentos humanos, a relevância cultural importante de sua pessoa será descoberta. Como um pedaço de literatura grega clássica que incorpora temas intemporais de luta e sofrimento humano, o corpo de trabalho de Michael Jackson virá a ocupar um lugar semelhante no panteão cultural da modernidade.

Por que, então, foi necessário matar o mensageiro? Ao refletirmos sobre a vida de Michael Jackson, e agora sobre a morte, é difícil não nos sentirmos tristes pelo homem e vê-lo sob uma luz trágica. Com todo o seu poder, riqueza e fama, ele agora está diante de nós como um pássaro esmagado depois de ser bombardeado várias vezes por muitas pedras. Abatido, Jackson continuou a se isolar, com medo do que o mundo com o qual ele se importava tão profundamente em mudar para melhor, estivesse jogando contra ele.


Michael Jackson foi um Sísifo moderno, o homem da lenda condenado a empurra repetidamente uma rocha acima de uma montanha só para vê-la rolar para baixo. Infelizmente, porém, o nosso Sísifo entrou em colapso sob o peso de sua luta.

Michael Jackson foi inflado para a posição de uma divindade Pop, uma figura mítica, apenas para ser crucificado e apedrejado pelos deuses da mídia que criaram o seu sucesso. Suas excentricidades saíam do comportamento padrão socialmente aceitáveis, mas seriam elas necessariamente ilegais ou erradas? Não.

A maior parte das ações de Michael Jackson era pouco convencional, mas, ao mesmo tempo, não eram a grandeza de sua celebridade e situação global além de qualquer coisa que a cultura moderna já testemunhou? Sua grandeza, sua excentricidade: uma influenciava a outra.

É inegável que a imensa fama e riqueza lhe permitiram se afastar da sociedade e observar o mundo a partir de um ponto de vista privilegiado. Às vezes, porém, é necessária esta posição privilegiada e isolada para ser capaz de fazer as observações sociais menos poluídas e, finalmente, produzir o comentário social mais eficaz, através da arte.

Ao longo da história, o trabalho e as vidas de vários artistas têm sido ridicularizados e desprezados pelo público durante o seu auge, apenas para serem colocados postumamente no cânone dos grandes. É, sem dúvida, o que irá acontecer com Michael Jackson, no devido tempo, angariar esse mesmo nível de aclamação da crítica como um artista e, mais importante, como um humanitário.
_____________________________

Trechos selecionados do texto “Celebrity Scales: Michael Jackson, the wounded Messenger: Star – Studed Legal Commentary for the Celebrity Obsessed”, escrito por Matt Semino e publicado em 18/07/2009.