Onde está o seu coração?
Onde está a sua mente?
Prem Baba
Que haja paz nesse mundo.
A paz é construída, assim como a vontade também é construída.
Embora o amor seja uma fragrância do Ser, essa fragrância somente é espargida
quando existe espaço para isso. E esse espaço também é construído. Neste
processo de construção é de fundamental importância você estar consciente de
onde está o seu coração e a sua mente.
Eu lhe pergunto: Onde está o seu coração? Onde está a sua mente?
Nesse caso, coração e mente são apenas figuras de linguagem; o que eu estou
perguntando é: onde está o seu foco?
Sabemos que, quando pensamento, palavra e ação estão unidos e focados numa
única direção, não existem barreiras; nada pode se opor a essa intenção sincera
e dirigida.
A mente é um poder do Ser – o maior poder. Ela não é material; é um processo
que se assemelha a um lugar de peregrinação. Os peregrinos são os pensamentos;
pensamentos que muitas vezes se transformam em sentimentos.
Quando existe divisão entre pensamento, palavra e a ação você encontra
barreiras para realizar as suas intenções. Tenho chamado essas barreiras de
“não”, mas é importante lembrar que é você quem diz não, embora na grande
maioria das vezes você não tenha consciência disso.
Esse “não” que é dito por você se manifesta lá fora. A mente é o poder que cria
e descria tudo aquilo que chamamos de “situações de vida”. Os pensamentos são
reflexos dos objetos que estimulam os sentidos, e são esses pensamentos que
direcionam a forma como você se move no mundo.
Normalmente você se torna confuso em relação a tantos estímulos que vêm do
mundo exterior, combinados com as pulsões que você carrega internamente.
Algumas dessas pulsões também foram criadas a partir de pensamentos externos e
se manifestam na forma de crenças e imagens. Também existem as pulsões mais
profundas da sua natureza divina. Tudo isso pode gerar instabilidade nesse
campo de peregrinação.
A tendência do mundo é te arrastar. Os objetos estimulam seus sentidos e a sua
atenção vai naquela direção. Essa conexão produz pensamentos, que produzem mais
pensamentos, que podem estar em acordo ou desacordo com as pulsões internas,
quer sejam pulsões de crenças e imagens, ou pulsões do Ser.
Portanto, o primeiro passo para o desvendar do amor é recolher a mente, nem que
seja por alguns períodos durante o seu dia.
É fundamental que você possa se desligar do mundo sensorial para poder se
conectar com o mundo interior, a ponto de identificar as incongruências; a
ponto de identificar onde está a sua atenção.
Porque quando sua mente está muito distraída, você não consegue nem mesmo saber
onde está o seu coração e a sua mente em um nível mais profundo, pois existem
pensamentos superficiais que são reflexos dos objetos que estimulam os
sentidos, e que fazem com que você caia na comparação, no desejo, no ciúme, na
inveja… Que são somente distrações.
E essas distrações podem te tomar por
completo. Sua mente pode ser completamente arrastada e pode cair em decadência.
Isso significa que ela fica presa nos desdobramentos dos pensamentos
superficiais, o que faz com que você se sinta completamente desconectado.
Seus sonhos são permeados por imagens desconexas que não lhe dizem
absolutamente nada, ou oscilam entre os desejos, comparações, inveja,
julgamentos, entre outros aspectos que são estimulados pelo mundo sensorial.
A natureza do mundo é te puxar. E o seu trabalho é aprender a andar no fio da
navalha. Você está no caminho do yogi (significado… equilíbrio, quem conheça a
sua natureza).
O verdadeiro yogi é aquele que anda no mundo sem se perder nele, porque ele se
tornou senhor de si mesmo.
E nesse caminho para se tornar um yogi é importante que você possa realizar
conscientemente a prática de recolher a sua mente. Por isso, eu estou sempre
lhe estimulando a fazer a prática do japa, da meditação ou, no mínimo, se
recolher em silêncio. Tudo isso são formas de oração.
Então eu estou constantemente lhe convidando a orar, a colocar sua mente e o
seu coração em Deus, mesmo que num primeiro momento seja um trabalho de
esforço, porque você está reeducando a sua mente. Você está redirecionando os
vetores da mente que estão acostumados a ir para fora, atrás dos objetos que
estimulam os sentidos, e que trazem uma alegria passageira.
Então, compreendendo que essa é a natureza das coisas e o caminho também não é
fugir da vida, mas encontrar um caminho do meio, eu sugiro que você pelo menos
possa reservar algumas horas do seu dia para a prática espiritual, que em
resumo, são maneiras de direcionar os vetores da mente para uma única direção:
Deus. É colocar o coração em Deus.
No começo, é uma austeridade inteligente, uma prática de yoga, até que vai se
tornando natural; até que você vai se tornando naturalmente silencioso.
A sua mente e o seu coração vão se afinando com Deus.
E mesmo que Deus na sua expressão maior seja manifesto, você coloca sua mente e
o seu coração numa manifestação divina que esteja mais acessível. Cada qual se
afina melhor com uma forma. Alguns preferem aprofundar essa comunhão através do
silêncio, outros através da adoração de uma forma divina. Cada qual tem uma tendência
para realizar esse movimento, mas o importante é o “vigiar e orar”, que é outra
forma de dizer “esteja presente”.
Assim você vai, pouco a pouco, resgatando a sua atenção que está espalhada,
distribuída por aí. Quando você se recolhe um pouco, logo começa a tomar
consciência de onde está o seu coração, de onde está a sua mente.
Aí você começa a tomar consciência das suas incongruências e perceber que não
existe alinhamento entre pensamento, palavra e ação. É justamente por isso que
você se sente impotente, sem condições de realizar aquilo que conscientemente
tanto deseja realizar. Porque, quando o seu foco realmente está em uma única
direção, ou seja, pensamento, sentimento e atitude estão voltados para uma
única direção, você se torna um raio de realização.
E é claro que quando esse alinhamento é pleno, aquilo que se realiza através de
você é a vontade Divina.
Durante uma fase da jornada, o ego se apropria desse poder, porque se você
consegue direcionar a energia nesse grau que estou descrevendo e o ego não está
ainda totalmente integrado, ele acaba roubando a cena e se apropriando da
realização. Mas, isso não dura muito porque logo ele percebe que não é ele que
está fazendo – é Deus que a faz.
Onde está o seu coração hoje? Onde tem estado o seu coração? Onde tem estado a
sua mente?
O que te ajuda nesse processo de identificação e de localização é observar a
sua situação de vida, porque é isso que você tem criado. Tudo é criado a partir
da energia do desejo, que é pensamento e sentimento focados em uma direção.
O ser humano tem um grande poder, mas ele não sabe disso.
A mente é um grande poder que o ser humano desconhece.
Eu sugeri um trabalho de cura para que você pudesse integrar mais algumas
partes da personalidade que estão trancadas em negação, porque essas partes
roubam a sua atenção sem que você saiba. Muitos estão tomando consciência de
como suas mentes estão aprisionadas em quadrantes que foram esquecidos.
O quanto estão presos em mágoas e ressentimentos, comprometidos com pactos de
vingança.
Assim, por mais que conscientemente você tente colocar a mente em Deus, e tente
criar união e harmonia na sua vida, existe uma divisão interna. Existe uma
incongruência entre pensamento, palavra e ação, pois dentro de você existe uma
divisão, uma parte que é da paz e uma parte que é da guerra.
Uma parte quer fazer justiça com as próprias mãos, pois não se conforma com o
que se passou. E o fato de conscientemente dirigir sua atenção para aquele
ponto abre uma possibilidade de cura, porque a compreensão começa a crescer, e
dessa compreensão começa a surgir o perdão.
Às vezes, a primeira nota da fragrância do perdão que surge é o perdão em
relação a si mesmo. O fato é que a compreensão começa a abrir espaço para o
perdão, até que você é completamente arrebatado por ele, o que significa que
você realmente se liberta da fixação naquele aspecto do passado; você resgata a
energia que estava sendo desperdiçada ali; você resgata a mente e o coração que
estavam comprometidos com as vinganças. Rama representa a consciência Divina
que, em dado momento, é tomada pela natureza inferior e faz com que o poder que
te habita fique a serviço da guerra, da vingança e do ódio.
Para fazer esse resgate você tem, em primeiro lugar, que realmente querer fazer
isso. A partir daí, você escolhe fazer uso dos poderes superiores da alma já
disponíveis.
Fazer uso do Hanuman interno, que é aquele que assegura a vitória de Rama, o
poder da vontade consciente. Rama representa a lealdade a Deus, o
comprometimento com o Dharma.
Esse é um processo que é desenvolvido. Como já disse, essas virtudes, como a
vontade e a firmeza, são construídas.
Esse é um trabalho que requer uma constante renovação dos seus votos.
Quando você cai, você levanta e continua.
Nessa batalha até mesmo o Senhor Rama caiu. Mas, ao cair, não tente compreender
a natureza da lama (porque às vezes a pessoa cai e fica tentando filosofar a
respeito do tipo da lama em que ela está), apenas levante; caso contrário você
vai sendo cada vez mais arrastado. O mundo inferior é como uma areia movediça.
Por isso, se você caiu, levante; renove seus votos e traga de novo sua
consciência para o momento presente. Mais uma vez se comprometa com a prática e
com o conhecimento.
O coração, quando está livre, só vai para Deus. Ele somente é arrastado pelos
objetos quando está com as asas amarradas. Asas amarradas significa estar
condicionado. Se o coração está livre, ele vai para Deus.
Para onde um beija-flor vai se não beijar as flores?
Para onde o rio vai senão para o mar?
Lembre-se de colocar a sua mente em Deus, quer seja na forma do Guru, quer seja
em Krishna, Jesus, nas flores, no sol, na lua, nas estrelas, no mar…
Com esse movimento, naturalmente a verdade
começa a se revelar e ela vai te mostrando os próximos passos. Isso acontece
naturalmente, sem esforço, basta se recolher para receber a mensagem que você
precisa. Então, de repente você é levado; você sai da mente. Deus te pega e te
leva para onde você precisa estar.
É simples assim. Mas, às vezes, a mente entra em decadência e você é tão tomado
pelos pensamentos que não consegue sentir essa aliança, essa conexão. Você se
sente isolado, desprotegido, inseguro, esquecido, mas isso é uma ilusão criada
pelos pensamentos.
As flores nunca deixaram de existir... O sol continua a iluminar, as estrelas
continuam a brilhar, o mar continua o mesmo, recebendo todos os rios que chegam
até ele.
Mas, a mente entra em confusão e não consegue perceber isso. A consciência se
rebaixa. O processo de descondicionamento muitas vezes é custoso, realmente dá
trabalho.
Requer firmeza e determinação.
Quando pensa que já está descondicionado, que já está livre, você se vê caindo
no mesmo buraco outra vez. Nesse momento, você tem a tendência a ficar
revoltado e irritado, achando que não tem saída.
Amado, eu sinto muito, mas é assim. Por alguma razão você encarnou aqui, e aqui
é assim que funciona. Aqui tem altura, largura, profundidade e gravidade. Seu
corpo precisa ir ao banheiro e precisa comer. O que fazer? Sua mente se enrosca
em tudo que dá uma alegriazinha.
Agora me lembrei de uma amiga minha que era amiga de um sadhu que costumava
ficar aqui perto do rio. Ele era muito amigo dela. Um dia, ela estava indo ao
banco para pegar dinheiro e cruzou com ele. Ele perguntou onde ela estava indo
e ela respondeu que estava indo ao banco. Ele falou: “Pega um pouco de dinheiro
para mim também”. Aí ela perguntou: “Para que você quer dinheiro, você é um
sadhu?” E ele respondeu: “Eu não preciso de nada, é esse corpo que precisa de
tudo. Esse corpo não para de desejar, ele quer comida, quer dinheiro, quer
tudo”. (risos)
Por alguma razão você nasceu aqui, então você tem que jogar o jogo. Apenas
jogue. E por falar em vigiar e orar, e em colocar a mente em Deus, vamos
cantar. Essa é uma forma de colocar a mente em Deus.
Abençoado seja cada um de vocês. Que possamos receber as santas curas, nos
harmonizar com o sagrado feminino.
Até o nosso próximo encontro.
Namastê!
__________________________________Autor: Prem Baba
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