Análises apontam que papiro
que fala da esposa de Jesus não é falso
Acredita-se que o fragmento seja proveniente do
Egito. Historiadora diz que análises não provam que Jesus era casado.
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Fonte: AFP - 10/04/2014 14h55 - Atualizado em 10/04/2014
17h45
Inscrição antiga feita em papiro pode sinalizar que
Jesus Cristo tinha esposa (Foto: AP Photo/Harvard University, Karen L. King).
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Um pedaço de papiro antigo que contém uma menção à
esposa de Jesus não é uma falsificação, de acordo com uma análise científica do
controverso texto, informaram nesta quinta-feira (10) pesquisadores americanos.
Acredita-se que o fragmento seja proveniente do
Egito Antigo, pois contém escritos na língua copta (extinta no século XVII), que afirmam: "Jesus disse-lhes:
'Minha esposa...''. Outra parte diz ainda: "Ela poderá ser minha
discípula".
A descoberta do papiro, em 2012, provocou polêmica.
Pelo fato de a tradição cristã afirmar que Jesus não era casado, o documento
reacendeu os debates sobre o celibato e o papel das mulheres na Igreja.
O jornal do Vaticano "L'Osservatore
Romano" declarou na época que o papiro era uma farsa, juntamente com
outros estudiosos que duvidaram de sua autenticidade baseando-se em sua gramática
pobre, texto borrado e origem incerta.
Nunca antes um evangelho se referiu a Jesus como
casado ou tendo mulheres como discípulos. Mas uma nova análise científica do
papiro e da tinta, bem como da escrita e da gramática, mostrou que o documento
é antigo.
"Nenhuma evidência de fabricação moderna (falsificação) foi encontrada",
declarou a Harvard Divinity School, da Universidade Harvard, em comunicado.
O fragmento provavelmente remonta a uma data entre
os séculos VI e IX, mas poderia ter sido escrito até mesmo no século II, de
acordo com os resultados do estudo, publicados na revista "Harvard
Theological Review".
A datação do papiro feita por radiocarbono e uma
análise da tinta por espectroscopia Micro-Raman foram realizadas por
especialistas das universidades Columbia e Harvard e do Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT).
"A equipe concluiu que a composição química do
papiro e os padrões de oxidação são consistentes com papiros antigos, ao
comparar o fragmento do Evangelho da Esposa de Jesus (Gospel of Jesus' Wife –
GJW, em inglês) com um fragmento do Evangelho de João", apontou o estudo.
"O teste atual suporta, assim, a conclusão de
que o papiro e a tinta do GJW são antigos", acrescentou o comunicado de
Harvard.
Origem desconhecida:
A origem do papiro, porém, ainda é desconhecida. A
historiadora Karen King, da Harvard Divinity School, recebeu-o há dois anos de
um colecionador – que pediu para permanecer anônimo.
Especialista em cristianismo primitivo, Karen afirmou que a ciência ter mostrado que o papiro é antigo não prova que Jesus era casado.
"A questão principal do fragmento é afirmar
que as mulheres que são mães e esposas podem ser discípulas de Jesus, tema que
foi muito debatido no início do cristianismo, em um momento em que a virgindade
celibatária se tornou cada vez mais valorizada", explicou a historiadora
em comunicado.
"Esse fragmento de evangelho fornece uma razão
para reconsiderar o que pensávamos que sabíamos, ao nos perguntar o papel que
as declarações sobre o estado civil de Jesus desempenharam historicamente nas
controvérsias cristãs sobre casamento, celibato e família", destacou.
O fragmento mede 4 cm x 8 cm. Karen declarou que a
data do documento – escrito séculos depois da morte de Jesus – significa que o
autor não conhecia pessoalmente o profeta, considerado pelos católicos como
"o filho de Deus".
A aparência bruta e os erros gramaticais do papiro
sugerem que o escritor tinha apenas uma educação elementar, destacou o
comunicado.
O professor de egiptologia Leo Depuydt, da Universidade
Brown, escreveu um artigo, também publicado na "Harvard Theological
Review", descrevendo por que acredita que o documento seja falso.
"O fragmento do papiro parece perfeito para um
esquete do Monty Python [famoso grupo de comediantes britânicos]",
declarou.
Depuydt apontou erros gramaticais e o fato de as
palavras "minha esposa" parecerem ter sido enfatizadas em negrito, o
que não é usado em outros textos antigos na língua copta.
"Como um estudante de copta convencido de que
o fragmento seja uma criação moderna, sou incapaz de fugir à impressão de que
existe algo quase engraçado no uso das letras em negrito", escreveu o
professor.
A historiadora de Harvard, porém, publicou uma
refutação às críticas de Depuydt, dizendo que o fato de a tinta estar borrada
era comum e que as letras abaixo de "minha esposa" eram ainda mais
escuras.
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Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/04/analises-apontam-que-papiro-que-fala-da-esposa-de-jesus-nao-e-falso.html