PEQUENOS GRANDES MESTRES
Natália Lizeth López López
Emocionante e profundo discurso de Natalia Lizeth López
López, uma pequena indígena de 11 anos, natural de Vera Cruz/México, durante a
premiação do concurso de fotografias “Um
Flashazo Ciudadano”, em 25 de março de 2014.
Após saudar o público em sua língua nativa, a pequena
Natália surpreende a todos com sua desenvoltura, sabedoria e nível de
consciência bastante elevados para os nossos tempos.
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Tradução
“Bom dia a todos os
presentes! Meu nome é Natália Lizeth López López, sou aluna na Escola Primária
Professor Rodolfo Léon Garza e sou orgulhosamente de origem indígena.
Agradeço a oportunidade
que me vem de participar deste concurso de fotografia “Um Flashazo Ciudadano”,
organizado pela Comissão Estatal Eleitoral de Nuevo Léon. O tema que se trata
aqui é muito importante. Sinto que o tema é muito meu.
Vivemos em um país
mega-diverso. Tantas culturas fazem mescla de tradições e costumes muito
singulares, que nos fazem ser um país único e especial. México, um dos países
no mundo com uma grande diversidade de etnias e populações indígenas.
Ignoro quem foi a pessoa
encarregada de escolher o tema desse concurso, “Multiculturalismo no Estado de
Nuevo Léon”. Mas a agradeço enormemente porque abriu uma oportunidade de
conhecer e transmitir algo de nossas culturas a mais pessoas.
Minhas raízes são de
origem indígena. Pertenço a uma dessas culturas que são minoria na sociedade.
Pertenço às Marias que se sobressaem nas ruas por se vestirem diferentes e por
falar uma língua antiga, “El nahuatl”.
E ainda que eu viva em uma grande cidade de Nuevo Léon, meus pais se encarregam
de ensinar-me o valor de minhas raízes de Vera Cruz. Porque eu nasci nessa
parte, perto de Cierro Del Viento, donde se diz que está plasmada a mão de
Montezuma. É uma grande silhueta, um espetáculo maravilhoso.
Apesar de minha pouca
idade, conviver com meus pais em seu trabalho como vendedores nas ruas deu-me a
oportunidade de conhecer sobre as mais distintas situações da vida.
Minha mãe vende plantas
nos mercadinhos perto da minha casa. “Ponha
água na planta e a trate com carinho para que nasça a flor”: assim diz
minha mãe a seus clientes. Mas, a mim, me disse: “Lave os dentes sempre que comer, se quer que permaneçam branco; ponha
creme todos os dias, para que tua pele não resseque; leia 30 minutos
diariamente e aprenderá muitas coisas”.
Um dia, minha professora
pôs sobre o quadro negro uma frase que dizia: “Uma gota perfura a rocha não pela sua força, mas sim por sua
constância”. Eu não a entendi de imediato, mas quando ela nos explicou com
exemplos, eu me lembrei de meus pais e do que eles me dizem dia a dia. Hoje, eu
entendo que somente obtemos as coisas se somos constantes.
Eu vejo as notícias de que
os níveis de delinquência, sequestros e corrupção estão muito elevados, e que
cada vez mais existe menos educação.
Por que se perde o
respeito pelos nossos idosos, pelos nossos vizinhos, pelo nosso país? Por que
as diferentes etnias de nosso país estão sendo perdidas? Por que não
valorizamos a riqueza de nossas raízes? Pois, porque não estamos praticando
valores, porque dia a dia deixamos de fazer boas ações e de nos preocupar com
os demais.
Os adultos se perdem no
estresse da vida diária, e dão tanta importância para as coisas materiais que a
sociedade nos oferece, e esquecem o verdadeiramente importante: incutir amor e
valores a partir da família.
Precisamos praticar
honestidade, praticar a comunicação, praticar a tolerância, praticar no
altar... praticar, praticar, praticar, praticar valores, muitos valores, dia a
dia, na família, na escola, no trabalho, nos parques... A constância faria com
que os adultos se tornassem respeitosas, pontuais, cordiais, organizados e
produtivos. Se cada um de nós valorizasse o positivo de nossas culturas, quanta
riqueza teria a nossa sociedade!
Esqueça-se um pouquinho
do celular, do videogame, do chat e abrace quem você gosta; fale pessoalmente e
os laços de amor e os valores aumentarão.
Eu sou Natália, falo a
língua “nahuatl” porque minha mãe me
ensina, mas sinto um grande pesar por não conhecer a “totonaca” que meu pai carrega em seu coração.
Obrigada por me
escutar!”
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SEDIMENTANDO VALORES ESQUECIDOS