A ESSÊNCIA DO SER
Michael na Terra do
Nunca
by Steve Demorest
(Entrevista publicada na “Melody Maker”, em 1º de Março de 1980 – É
longa, mas não houve como selecionar trechos; perderia todo o contexto)
“Você consegue identificar a perfeição quando olha para ela”. A voz flutuando
pela Costa era tão suave como a de uma criança. Era Michael Jackson, ditando as
regras para a nossa entrevista.
A CBS Internacional já havia me avisado sobre certas questões,
como comparar os Jacksons a outras famílias do show business. ''Claro'',
eu me precavi, ''e não vou perguntar a ele o que ele pensa sobre Baudelaire ou
o Afeganistão”.
Mais alguma
coisa? Sim. Disseram-me para esperar um telefonema direto de Michael, e aqui
ele estava - ao vivo de um telefone mono da Bell. Com uma pequena
condição. Ele queria que eu fizesse as perguntas para a sua irmã. E
então ela as repetiria para ele.
Ele disse
que isso tinha a ver com "uma coisa que eu acredito".
''Oh... Você
quer dizer então para eu deixar as perguntas e pegar a fita mais tarde, mas que
eu não esteja aqui durante a entrevista?''
''Não'', ele
disse. Eu poderia ficar e ele responderia para mim.
''Humm'', eu
pensei, ''esse passa-e-repassa é novo para mim. Do que ele possivelmente tem
medo?''
''Claro'',
eu disse.. ''o que te deixar mais confortável”.'
Marcar uma
entrevista com Michael Jackson é um negócio difícil, especialmente depois dele
ter sido citado de forma equivocada por uma grande revista americana. Só um bom
bocado de paciência e educação por um longo tempo fizeram com que essa
entrevista acontecesse.
Dizem que os
Jacksons venderam mais discos do que qualquer outro grupo com a exceção
dos Beatles, mas foi sempre Michael quem teve o maior carisma.
Em 1970,
quando ele era um precoce gênio de 11 anos, cantando e dançando com uma sofisticação
para além da sua idade, Michael tinha um charme que as garotas dez anos mais
velhas do que ele não conseguiam encontrar em seus namorados.
E na sua
estatura de criança, ele parecia bem inofensivo. Ao final dos anos sessenta,
imperava o sentimento do Black is Beautiful, mas também um pouco
assustador para os brancos.
Com Michael,
no entanto, o Black também podia ser bonitinho, talvez pela primeira vez
em uma década.
Em 1979, o
álbum Destiny da família recebeu platina dupla e eles dizem que
arrebatam 10.000 fãs todas as noites em sua turnê pelos estádios dos Estados
Unidos.
Michael, no
entanto, chegou em quase três milhões de cópias vendidas com Off The Wall,
completamente sozinho. No American Music Awards de janeiro, ele empatou
com Donna Summer como o mais premiado, vencendo Melhor Vocalista Masculino,
Melhor Álbum de Soul e Melhor Single de Soul (pela sua composição
Don't Stop 'Til You Get Enough).
Agora ele
concorre por Melhor Gravação de Disco Music e Melhor Performance
Vocal de R&B no Grammy. Off The Wall também foi bem
recebido pelos críticos, conseguindo aprovação na abafada Rolling Stone
e lugar no ultra-preconceituoso Top 20 de final de ano da Village
Voice. Pelo visto, parece que não há quem não goste de Michael Jackson.
Aos 21,
Michael passou de “bonitinho” e se tornou um homem bem bonito. Você o vê na TV,
saindo da fumaça em meio a lasers verdes, com sua roupa brilhante e, de
repente, aquele garotinho se transformou em um príncipe totalmente crescido.
A presença
dele no palco é fabulosa - cada gesto lançado com forte autoridade, olhos
piscando por trás dos longos cílios, e um sorriso radiante que não é deste
mundo - e você então entende porque estão começando a chamá-lo de “O Sinatra
negro para os anos 90”.
É natural
imaginar o quanto desse fogaréu de emoções é legítimo e o quanto é fabricado.
Se ouve que Michael é uma pessoa muito família, muito religioso e muito
correto. Alguns até dizem que, mimado pelo seu trabalho e sua família, ele é
isolado como um menino em uma bolha de plástico.
“Eu não
compro essa história”, diz uma cínica editora de fanzines no meio do seu
quarto copo de scotch. “Como ele consegue evitar todas as garotas que o
perseguem?”
Curiosidades
vulgares de lado, o rapaz recebe muita atenção - e mesmo assim, ele parece ter
preservado um grande charme. No final, eu acabei descobrindo o seguinte:
Michael Jackson parece ter escapado das torturas comuns da adolescência com uma
rara virgindade de alma - não apenas intacta, mas crescente.
O nosso Cadillac
cinza subiu as montanhas de Hollywood e deslizou até o vale de São
Fernando. Não tão longe do alvoroço de Encino, nós avistamos um portão de
ferro aberto, tocamos o interfone para os habitantes tirarem o doberman
do jardim, e então adentramos a estrada para a confortável mansão de classe
média alta, mas certamente não o palácio que eles poderiam morar, se quisessem.
Janet, de
treze anos - ela mesma uma estrela de TV no seriado Good Times - atende
a porta como uma criança responsável, seu pequeno colar de ouro encoberto pelas
suas tranças a la Bo Derek. Os pais não estão por perto, não há
empresário e nem segurança.
Na verdade,
eu e Shirley Brooks da CBS (que gentilmente pede licença para assistir Rockford
Filex pelas próximas duas horas) somos o mais próximo de “adultos” à vista.
E aqui
cheeeeeeeeeeeeega Michael! Quietamente, ele atravessa a sala para nos
cumprimentar; o carismático Michael Jackson parece ser um jovem gentil, doce e
calmo. Ele está usando um pulôver laranja, calças escuras e um par de sapatos
grandes e reluzentes que te dão a impressão que tem um filhote ou um potro não
inteiramente crescido nos pés dele.
Michael me
lembra que nós concordamos em realizar a entrevista com sua irmã intermediando
como intérprete, e nós três nos dirigimos para a brilhosa sala amarelo-lima. Eu
já decidi começar com as perguntas mais suaves possíveis, assim Michael terá
tempo para ver como sou, de fato, humano - mas Michael ainda não sabe disto.
Ele está
batendo os joelhos um no outro enquanto eu ajeito o gravador, até que Janet -
sentada no nosso meio - dá uma pancadinha suave nele. Ele sorri e relaxa. Ao
longo da nossa conversa, ela mexe no cabelo dele ou esfrega seu braço, dando
confiança.
Então, vamos
começar com Quincy Jones - todo mundo ama o trabalho da produção dele em Off
The Wall. Quincy lembra-se de ter conhecido Michael na casa de Sammy Davis
quando o garoto tinha dez anos, e a primeira lembrança que Michael tem de
Quincy data de uma festa em homenagem a Muhammad Ali, mas o encontro "de
verdade" deles foi quando eles trabalharam juntos em The Wiz, em
1978.
É, eu
gostaria de saber como Michael decidiu que Quincy seria o produtor do seu
disco.
“Como você
decidiu a escolha de Quincy?” Janet ecoa.
Michael
sorri. “Bom começo.”
“Um dia eu
liguei para o Quincy para perguntar se ele poderia sugerir alguns bons
profissionais que gostariam de trabalhar no meu álbum. Foi a primeira vez que
eu compus e produzi inteiramente as minhas músicas, e eu estava procurando por
alguém que me daria esta liberdade, e que fosse alguém ilimitado musicalmente.
Quincy me chama de Smelly [cheiroso] e ele disse: 'Bem, Smelly,
por que você não me deixa produzir?' Eu disse: 'Esta é uma ótima ideia!'”
Michael ri
como se ele ainda não acreditasse no quão ingênuo havia sido.
"É que
soou tão falso - como se eu estivesse tentando fazer ele dizer aquilo - mas eu
não estava. Eu nem pensei nisto. Mas Quincy consegue fazer jazz, ele faz
trilhas-sonoras para filmes, rock 'n' roll, funk, pop -
ele faz todas as cores, e esse é o tipo de pessoa com quem queria
trabalhar. Eu fui até a casa dele, tipo no dia seguinte, e nós começamos a
montar juntos."
Michael está
orgulhoso da sua abordagem "colorida" e o boato da hora é que ele
está pensando em boicotar a premiação Grammy, apesar de suas duas
indicações, para protestar por ter sido incluso nas estreitas categorias de Disco/R&B.
Agora ele
nos conta a variedade musical que escuta, como Supertramp, música
folk, música clássica, música espanhola antiga, renascentista.
“Eu tenho
todo tipo de discos e K7s que as pessoas nunca imaginariam que seriam meus. Eu
amo Some Girls. Claro que ele [Jagger] se encrencou com aquela coisa que
ele disse. Eu não gosto de vulgaridade. Realmente, nenhum pouco.”
Outro
artista ao gosto de Michael é Rod Temperton, que deixou de excursionar com o Hestwave
para compor músicas como Rock With You, Off The Wall e Burn
This Disco Out.
''Quincy
teve muitas ideias boas para o Michael?''
“Quincy deu
boas ideias a você?” Janet sussurra.
“Uma grande
coincidência aconteceu neste álbum. Sabe a música do Paul McCartney que eu
gravei, Girlfriend? Eu conheci Paul McCartney no Queen Mary, e
então o encontrei novamente numa festa que ele deu na casa de Harold Lloyd aqui
em L.A.''
''Ele e
Linda vieram até mim e disseram 'Nós escrevemos uma música para você', e
começaram a cantar: 'Girlfriend, da-da-dee-dee-dee-dee.' Eu disse: 'Oh, eu
gostei muito, quando podemos nos encontrar?' Então ele me deu o telefone dele
na Escócia e em Londres, mas nunca conseguimos nos encontrar.''
''Quando eu
vi, ele já havia gravado a música no álbum dele, London Town. Então um
dia eu fui até a casa de Quincy e ele disse: 'Sabe que música seria ótima pra
você? Essa música do McCartney chamada Girlfriend.' Eu
pirei.” Michael ri da simetria do sucesso.
“Paul
McCartney me mandou um telegrama há não muito tempo atrás me dizendo que havia
amado a minha versão mais do que a dele, e agora nós vamos gravar algumas
coisas para o próximo álbum dele. Vamos compor duas músicas juntos - este é um
dos meus próximos projetos após o álbum dos Jacksons em março. Se eu
cantar também vai ser legal, mas isso é com ele, porque o disco é dele.”
''Michael
está gostando mesmo de trabalhar dia e noite, como ele diz em sua música?''
Janet repassa a pergunta.
“Eu gosto
muito”, ele concorda.
''Working
Day And Night é muito autobiográfica em vários sentidos, embora eu tenha
estendido ao ponto de fazer o papel de um cara casado cuja esposa me faz mudar.
Mas não é trabalho como escravidão. Eu amo, ou não teria sobrevivido até aqui.”
Até aqui.
Michael começou entretendo localmente em Gary, Indiana, quando ele tinha seis
anos de idade, e após quinze anos ele é provavelmente o astro infantil que
durou mais tempo desde Shirley Temple. Criado sob os holofotes, este cara
cresceu com magia. Não existem artistas mais naturais do que Michael Jackson!
''A sua
performance no palco é espontânea?''
“Eu vou te
dizer com toda a honestidade divina”, ele diz, esquecendo de esperar Janet
falar. “Eu nunca entendi o que estava fazendo no começo - eu apenas fazia. Eu
nunca soube como cantava. Eu não tinha controle sob isso, isso apenas se criou.
Eu amava fazer o que fazia, no entanto. E eu amava assistir os outros cantarem
e dançarem também.”
“A minha
dança vem espontaneamente. Algumas coisas eu já faço há anos, então as pessoas
marcaram como se fosse o meu estilo, mas tudo são reações espontâneas. As
pessoas deram nomes a certas danças em minha homenagem, como o giro que eu
faço, mas eu nem consigo me lembrar como eu comecei a fazer o giro - veio
naturalmente.”
“Não
acontece nada se eu entrar numa sala e tentar pensar em algo novo. Eu aprendi
muito apenas 'brincando' na minha privacidade, em casa. Eu acho ótimo acordar
de manhã e ter esse grande espelho no seu quarto para ensaiar.”
“Eu amo todo
o mundo da dança, porque a dança é realmente a emoção através do movimento
corporal. E como for que você sinta, você trás aquele sentimento de dentro.
Muita gente não pensa sobre a importância dela, mas há toda uma questão
psicológica em apenas se deixar soltar. Dançar é importante, como rir, para
afastar a tensão. Escapismo... é ótimo.”
“Eu
realmente acredito que cada pessoa tem um destino a partir do dia em que nasce,
e certas pessoas têm uma missão muito específica a cumprir. Há uma razão para
os japoneses serem melhores em tecnologia e há uma razão porque a raça negra gosta
mais de música - desde a África e as tribos e as batidas de tambor.”
“Eu gosto de
pensar onde as coisas começaram e aprender a partir delas. Eu amo Bill Robinson
e todas as pessoas do início do vaudeville, que são realmente a origem
daquele tipo de dança. E eu adoro Fred Astaire.''
''Ele é um
amigo meu, e ele me fez elogios maravilhosos. Ele disse: 'Eu sei muito sobre
você, jovenzinho.' Nós não morávamos longe dele em Beverly Hills, e ele me
contou que costumava me ver todos os dias andando na minha moto, e ele
buzinava. Ele me disse que ama o meu trabalho e eu estou fazendo algumas coisas
que nem ele fazia quando começou.”
“Pensa,
quando ele se apresentou aos estúdios de cinema todos disseram: 'Você não
consegue atuar, não é bonito e consegue dançar só um pouco.' Eles disseram que
ele era feio porque ele ficou careca com pouco mais de vinte anos. Em todos os
filmes dele o que você vê não é o seu cabelo, sabe, ele fez um transplante. Mas
ele continuou e finalmente, ele conseguiu entrar em um projeto com a Joan
Crawford e ele arrasou.”
“Ele não
deixava nada passar até estar perfeito. Ele ensaiava uma estrofe de uma música
por toda uma semana, e ele me disse que ele e Ginger Rogers ensaiavam todo um
número de dança por três meses. Quem ensaia deste modo hoje em dia? Ninguém. E
deveriam. Você consegue identificar a perfeição quando está olhando para ela.”
“O que eu
odeio na TV e nas turnês é que sempre estamos correndo contra o tempo. No futuro,
eu vou atuar e dançar em filmes do modo como deveria ser feito, não do jeito
bobo e louco de fazer três números de dança em duas horas. Nos nossos especiais
de TV, eu gritava de raiva disto. Eu dizia: 'Todo esse sistema é muito
ignorante! Está errado, totalmente errado!'”
Michael
Jackson grita? Bem, talvez não seja sem razão, dado o fato de que ele cresceu
como uma espécie única de criatura dos palcos.
“Eu não
tenho nenhum pouco de ego”, ele afirma. “Digo, todo mundo têm um ego, mas não é
no sentido de pensar que eu sou grande ou que sou melhor do que esta ou aquela
pessoa por causa do que eu faço. Eu sinto completa pena por quem pensa deste
jeito. Eu só amo o que eu faço, e eu acredito em treinar e me aperfeiçoar. É
como aquele tipo de coisa da igreja, quando um espírito entra em alguém e a
pessoa perde o controle. Eu sou outra pessoa totalmente diferente quando
danço.”
De fato,
aquela “pessoa totalmente diferente” faz o Michael Jackson "real" se
sentir tão vulnerável que ele frequentemente quer se tornar invisível na sua
vida diária. Michael não tem medo dos palcos - ele tem medo da vida fora dos
palcos.
“Muitas
pessoas não conseguem lidar com o fato de que você é outra pessoa no palco.
Elas não entendem. Elas chegam até mim e dizem: 'Cante pra nós um trecho de Rock
With You ou 'Faça aquele giro que você fez na TV'. E eu fico com muita
vergonha. Se duas pessoas chegam até mim na rua então - ooh - é difícil. É tão
difícil.”
“Eu não vou
muito a danceterias e clubes. Às vezes você acha que vai ir ao cinema e que
ninguém vai te ver, mas assim que você chega na porta lá estão a caneta, o
papel e as fotos.”
Há um lugar
que ele gosta de ir, no entanto. O único lugar que ele gosta é o Studio 54
em Los Angeles.
“É tão
teatral e dramático", ele diz. "As pessoas vão fantasiadas, e é como
se fossem encenar uma peça. Eu acho que este é o motivo psicológico por todo
esse frenesi com a disco music: você consegue se transformar no sonho do
que você quer ser. Você se transforma e fica louco com as luzes e a música,
está em outro mundo. É bem escapista.”
“Mas eu não
me envolvo. Eu gosto de ficar na sacada e observar todo o tipo de loucura e ter
ideias. É importante saber como ser e como sentir uma boa plateia, saber o que
a plateia quer.”
“As pessoa
que te veem não agem de forma louca nem nada - elas apenas dizem 'oi' ou fazem
um aceno e continuam a dançar - e é por causa disso que muitos artistas vão lá.
É o lugar onde eles podem ser como todo mundo. Todo mundo está no mesmo nível.”
“As únicas
vezes em que danço em lugares assim é quando Liza Minnelli chega e simplesmente
me puxa para a pista. Ela é tão agressiva. Nós começamos a dançar e quando você
começa é tão difícil de deixar a pista. Quando você entra no clima, é difícil
assentar. É como se você ficasse viciado.”
Um papagaio
em outro quarto está chamando “Michael!... Michael!”
Janet é uma
espectadora agora, sentada quieta. Eu pergunto se a maioria dos amigos de
Michael são artistas e ele concorda.
“Na maioria
das vezes é mais fácil de se entender. Tatum (O' Neal) me liga e diz: 'Hey,
você quer ir a algum lugar?' ou quando Stevie (Wonder) me liga. Quando a grande
exposição do Rei Tut esteve aqui, ele quis ir. É claro, ele não pode ver, mas
ele consegue sentir e ele adora ir a museus.”
“Muito
dificilmente eu saio, mas nas vezes em que saio eu vou porque alguém me
convida. Eu adoro andar de patins, mas não gosto de esportes. Eu não dirigi por
muito tempo. Eu dirijo agora, mas estou pensando em desistir. Eu não dirijo na
estrada de jeito nenhum, eu fico em uma certa área e tento ser extra cauteloso.
É como um hemofílico que não pode arriscar um arranhão de jeito algum.”
Aparentemente
então este cara não está se divertindo por aí como Errol Flynn, apesar dos
boatos falsos que ele se dispõe a comentar. De certo modo, histórias picantes
soam risivelmente fora de lugar quando atribuídas a este anfitrião moderado na
sala de estar de sua família.
“Eu ainda
recebo tantas cartas perguntando se eu mudei de sexo, ou se eu saio com caras,
ou pensando que vou me casar com Clifton Davis.”
Janet entra
na conversa: “Uma menina ficou tão chateada quando sua amiga lhe contou o boato
que ela pulou da janela. Eu acho que ela morreu.”
Alguns fãs
de Michael têm uma imaginação tão criativa que lhe tornaram um ser neutro -
perguntando coisas como “Você Realmente Precisa ir ao Banheiro”?
Não que este
assunto preocupe muito Michael. Quando ele fala sobre ter uma família – “num
futuro distante” - ele fala em adotar crianças, e não procriá-las. (“Eu não
tenho que trazer meus próprios filhos ao mundo.”)
“Quem disse
que você tem que se casar com uma certa idade? Quem disse que com 18 anos você
tem de sair de casa? Quem disse que aos 16 anos você tem que dirigir? Eu não
dirigi até os 20, e eu ainda não quero. Quincy não sabe dirigir, ele
simplesmente não consegue. Isto não o faz burro, só o torna alguém que não quer
dirigir.”
Michael ri.
Escute, se você tivesse tido a infância desse cara, talvez você também gostaria
de ser jovem para sempre.
“Um dos meus
passatempos favoritos é estar com crianças - conversar com elas, brincar,
deitar na grama. Elas são o motivo para eu fazer o que faço. Crianças são mais
do que adultos. Elas sabem tudo o que as pessoas estão tentando descobrir -
elas sabem tantos segredos - mas é difícil para elas contarem. Eu consigo me
identificar com isso e aprender com elas.”
"Elas
dizem algumas coisas que te deixam boquiaberto. Elas chegam a níveis
brilhantes, geniais, mas quando chegam a certa idade, elas perdem. Tanta gente
acredita que certas coisas são infantis, mas adultos são nada menos do que
crianças que perderam toda sua magia real ao não notá-la e persegui-la. Eu
acredito profundamente nisso.”
“É por isso
que nunca usei drogas ou bebi. Nunca fiquei chapado. Já provei champagne, mas eu não bebo. Quando as
pessoas fazem brindes, eu só pego um copo. Porque eu gosto demais da natureza -
como ela.”
Ele aponta
para Janet, que sorri.
“Eu sei que
uma árvore sente quando o vento balança suas folhas. Ela provavelmente pensa,
'Chhhhh, isso é maravilhoso'. E é assim que eu me sinto quando canto certas
músicas. É maravilhoso.”
“E eu ainda
sou louco por pássaros, animais e filhotes. E eu amo coisas exóticas. Eu já
tive lhamas, pavões, uma ema, que é o segundo maior pássaro do mundo, uma
arara, que é o maior papagaio da América Latina, faisões, guaxinins,
galinhas... tudo. Agora eu quero um veado. E um flamingo. Eu acho que não quero
um puma, mas eu quero um chimpanzé - eles são tão doces. Oooooh, eu me divirto
tanto com os animais.”
Esse cara
fala sério, amigos. Michael borbulha enquanto fala.
“Eu tenho
uma relação maravilhosa com os animais, eles realmente me entendem. Quando eu
consegui minhas lhamas, eu inventei um vocabulário louco e elas entendiam e
vinham correndo.”
“Eu gostava
de me aventurar pelo meio dos veterinários e aprender sobre o comportamento dos
animais. Cães podem ver em preto-e-branco. Cães podem até ver o vento. E a
cobra rainha - o que a faz subir quando tocam a flauta?”
O sorriso
angelical de Michael Jackson está se espalhando como um pôr do sol, como se ele
estivesse tendo visões.
“E as
baleias. Do alto da casa de verão do meu irmão, nós conseguimos vê-las.”
Michael leva
sua mão até as sobrancelhas, escondendo o êxtase em seu rosto. “Todo o instinto
divino é tão maravilhoso.”
O silêncio
domina o quarto. Janet gentilmente massageia o braço de seu irmão mais
velho. Finalmente eu murmuro algo sobre o seu álbum ter sido dedicado ao
Ano da Criança, e o super astro de coração mole retorna à Terra.
“Eu me
assusto e me machuco com muita facilidade, e os noticiários me assustam muito,
mesmo que eu não esteja envolvido no problema da outra pessoa. No Lago Big
Bear, eu ouvi no noticiário que este menininho teve uma festa de Natal um
mês antes da data porque ele só tinha mais uma semana de vida. Claro, na mesma
semana ele morreu - e aquilo me deixou tão mal.”
“Eu conheço
crianças como ele o tempo todo quando visitamos hospital. Os médicos e
enfermeiras perguntam a elas: 'Vocês podem ir aonde quiserem e ver o que
quiserem - o que vocês querem?'
''E essas
crianças pedem para conhecer os Jacksons. Eles nos dizem: 'Vocês têm que
conhecer essa menina, ela vai morrer amanhã e desde que ela saiu da sala de
cirurgia não para de chamar por vocês.' E, Deus, eu me sinto tão bem por fazer
parte do último sonho de alguém! Todo o trabalho da minha vida inteira é
recompensado.”
Eu ouvi
dizer que Michael Jackson não engana as pessoas, que quando ele diz algo
extremamente sentimental, ele está sendo sincero, e eu estou engolindo isto com
anzol e linha. Você tem de acreditar, assim que você passa a entender a concepção
desse garoto sobre sua posição no mundo, seu senso de responsabilidade
administra a imortalidade da celebridade.
“Eu digo às
crianças: 'Eu vejo vocês no ano que vem' e, às vezes, o pensamento de que eu
voltarei no ano que vem dá um pouco mais de força a elas. Isto já aconteceu
muitas vezes. As pessoas me diziam que essa menina ia morrer, mas eu continuei
a encontrá-la por três anos seguidos - e no quarto ano ela morreu. Os médicos
não podiam fazer mais nada, e eu poder ajudar a prolongar a sua vida realmente
me fez me sentir bem.”
“Algumas
pessoas são escolhidas para fazer estas coisas. As crianças estão apáticas, mas
quando Danny Kaye entra e conta estas histórias e faz caretas, as crianças
ficam tão alegres. Bill Cosby é conhecido por seu jeito com as crianças,
também. As enfermeiras e os médicos ficam totalmente maravilhados com o poder
destas pessoas.”
“Eu sinto um
pouco a realidade da pobreza, também. Quando eu vou a um país - como as
Filipinas e o Trinidad ou na África - eu saio de verdade e vou para os bairros
mais pobres para conversar com as pessoas. Eu entro em suas cabanas, suas
casinhas pequenas, e me sinto em casa. Eu acho que é importante saber como as
pessoas se sentem diferente, especialmente no meu campo de trabalho.”
“O líder
destes bairros chama a todos e conta quem está ali para vê-los, e você se sente
bem em saber que eles sabem quem você é. Eu não acho que sou melhor do que as
outras pessoas, eu acho que sou diferente das outras pessoas porque faço coisas
diferentes.”
“Eu aperto
as mãos deles, e eles me seguem aonde quer que eu vá. Então eles veem a minha
câmera em volta do meu pescoço e começam a tocá-la e imploram para eu tirar uma
foto deles. Quando nós fomos pela primeira vez à África, nós levamos uma câmera
que tirava fotos instantâneas, e eles nunca haviam visto algo daquele tipo.
Eles pulavam e gritavam.”
Evidentemente,
Michael Jackson não é ignorante em relação ao mundo que rodeia a sua vida
encantada. Ele parece, no entanto, conscientemente determinado a escapar para o
mundo da ilusão em qualquer momento - especialmente para o mundo do cinema.
Talvez isto faça sentido, se proteger sua própria alegria mantém sua habilidade
de projetar o frescor que torna ele um performer tão atraente.
“Toda a
coisa de ficar em frente a uma câmera e escapar para dentro de outro mundo é
maravilhosa. Eu não tenho palavras para descrever o que senti filmando The
Wiz. Eu nunca irei me esquecer.”
“Você sabe o
começo de A Noviça Rebelde, quando Julie Andrews corre para as montanhas
e lança seus braços no ar? Oooh! Eu poderia comer aquilo. Aquilo me mata, é tão
bom. Eu sinto aquele momento por todo o meu corpo. Você se sente lá - e essa é
toda a magia dos filmes.”
“Eu conheci
Julie Andrews há três dias atrás, e quando ela apertou a minha mão, ela apertou
com força. Ela disse: 'A minha filha Emma tem o seu álbum e nós amamos muito o
que você está fazendo.' E eu disse: 'Você não sabe o que você fez por mim com o
seu trabalho.' Ela me influenciou tanto.”
“Eu vou
fazer muito mais em todo esse campo - musicais e dramas pesados. Eu conversei
com Jane Fonda e ela quer fazer muitos filmes comigo.”
“Diana Ross
é uma mãe de verdade. Todos os dias, ela entrava no meu quarto e perguntava se
eu queria alguma coisa [Michael fala do período em que se mudou para Los
Angeles e foi morar com Diana Ross]. Nós a conhecemos quando fizemos um
teste para Berry Gordy em sua mansão em Detroit - e é realmente uma mansão.''
''Você acha
que tudo parece grande quando você é criança porque você é pequeno, mas nós
estivemos lá durante nossa última turnê e - ooh - é ainda gigante. Tem tudo lá
- uma piscina, boliche, campo de golfe - e nós fizemos o teste em frente à
piscina.''
''Todos os
astros da Motown estavam lá e Diana veio até nós e disse o quanto nos
amou e como queria fazer parte de nossa carreira. Então ela nos apresentou
ao público. Nosso primeiro disco de sucesso foi chamado Diana Ross Presents
The Jackson Five.”
“Quando nós
lançamos Destiny, que foi o nosso primeiro álbum em que compusemos e
produzimos todas as nossas músicas, ela nos contou como estava orgulhosa do
nosso trabalho. Ela me disse: estando ou não estando na Motown, ela
sempre vai estar do nosso lado.”
“Ela me
procurou hoje. Ela está em Nova York e ouviu que eu estava no hospital - eu não
sei o que a fez pensar isto - e eu recebi uma mensagem para ligar para ela. Ela
realmente se importa.”
“O Mágico
de Oz tem muitos segredos. Ou Peter Pan - toda a coisa dos meninos
perdidos é incrível. Eles não são nem um pouco ingênuos - eles são muito, muito
profundos - você pode estabelecer as regras da sua vida a partir deles. As
crianças são as pessoas mais brilhantes, por isso elas se identificam tanto com
essas histórias. Pelo que mais você pode pedir, além de conquistar as suas
metas e acreditar nos seus ideais?”
“Há toda uma
razão psicológica em todos esses desenhos sobre o bem vencendo o mal. Temos o Super-Homem
e todos estes outros heróis para que possamos sair na vida e tentarmos ser
algo. Eu tenho a maioria dos filmes da Disney em vídeo e quando
assistimos a eles somos transportados para outro planeta. Oh, eu poderia
comê-los, comê-los.”
Janet está
quieta como um rato enquanto seu irmão fala com o respeito de uma celebridade
para outra.
“Algumas
pessoas chegam e dizem: 'Oh, você está assistindo desenhos, ham?' Bem, desenhos
são maravilhosos! Desenhos não têm limites. E quando você não tem limites, é
fantástico. Jiminy Cricket, Pinóquio, Mickey Mouse - todos
estes são personagens conhecidos no mundo todo. Algumas das maiores figuras
políticas vieram aos Estados Unidos para conhecê-los. Até gente da Rússia não
deixa o país sem conhecer a Disneylândia.”
Michael diz
que um dos seus maiores sonhos se realizou quando ele foi convidado para cantar
When You Wish Upon A Star com todos os 27 personagens da Disney
em sua volta. Foi para um especial de duas horas, apresentado por Danny Kaye,
celebrando os 25 anos da Disney.
“Eu me jogo
de cabeça", ele exulta. "Na Disneylândia, você se esquece do
mundo exterior. Quando você anda pela rua principal, você vê o castelo e então
você vê coisas dos anos 20... e como esses dois tempos se combinam? Mas eles
ficam tão bem juntos. Você desce a rua e você sente: 'É isto! Eu vou me
divertir.' Isto é escapismo.”
Mas, uh,
Michael... você não acha que é possível gostar um pouquinho demais de
escapismo?
“Não, eu não
acredito. Há um motivo pelo qual Deus fez o pôr do sol vermelho ou púrpura ou
verde. É lindo de se olhar - é um minuto de prazer. Há um motivo para vermos o
arco-íris após uma tempestade, ou uma floresta onde vivem veados. Isto é
maravilha, é escapismo - toca o seu coração e não há perigo nisto.”
“Escapismo e
deslumbramento são influências. Fazem nos sentir bem, e permite que você faça
coisas. Você segue em frente e diz: 'Deus, isto é maravilhoso - e eu aprecio
isto.”
“Como quando
eu estou voando há milhas do solo em um avião Jumbo e é o momento do
amanhecer. Todo mundo no avião está dormindo, e aqui estou eu com a tripulação
e os pilotos, porque eles me deixam entrar na cabine e - ooooh, é incrível ver
o Sol nascer e estar lá em cima junto com ele.”
“Eu já vi
ilusões no ar que nenhum homem já viu. Nós passamos pelo Polo Norte e estava
totalmente escuro e você via esses icebergs que brilhavam com a noite. E
então eu olhei para o céu e avistei cristais roxos, verdes e azuis, brilhando e
girando no ar.''
''Eu
perguntei: 'O que é aquilo?' e o piloto disse que ele não sabia, que havia
visto aquilo apenas uma vez. Eu disse: 'Meu Deus, eu nunca vou me esquecer
disto.''
Ele pausa
por um momento para prolongar sua lembrança.
“Uma vez,
quando estávamos voltando da África na completa escuridão, nós estávamos lá em
cima e haviam tantas estrelas cadentes que eu achei que elas iam atingir o
avião - foi incrível. Quando você está lá em cima, não há neblina, você quase
não vê nenhuma escuridão. Você vê todas as estrelas do céu.”
“Pilotos já
me disseram: 'Eu queria que não tivéssemos que descer para abastecer o
combustível. Eu gostaria de poder ficar aqui em cima para sempre. Para sempre.
Este é o lugar mais seguro do mundo para mim.'
''E eu
entendo plenamente o que eles dizem. Quando eu estou em frente à 40,000
pessoas, é tão fácil. Nada pode me machucar quando estou no palco - nada. É
quem realmente eu sou. Estou aqui para fazer isto.”
E é isto.
Criado sob encantamento e nutrido nos sonhos de milhões de fãs, este cara está
escapando para o paraíso e não quer descer. Michael Jackson está lá em cima com
os anjos, lá em cima onde você quase não vê a escuridão e enxerga todas as
estrelas.
“Eu me sinto
totalmente em casa no palco”, ele fala radiante. “É onde eu vivo... é o motivo
pelo qual nasci... é onde estou seguro.”
Fontes: http://www.mj-777.com/?p=7651
http://cartasparamichael.blogspot.com.br/2013/01/michael-na-terra-do-nunca.html