A IMPLOSÃO DO
VELHO MUNDO
Irlanda traz à
tona a vergonha
das lavanderias católicas
Publicado em 08 de fevereiro de 2013
O governo da Irlanda trouxe à tona de novo o que os
jornais do país chamam de “vergonha nacional”: as lavandeiras administradas por
ordens de freiras católicas que exploravam o trabalho das “caídas” (mães solteiras e suas filhas, vítimas de
abuso sexual, prostitutas e portadoras de deficiência física ou mental).
As mulheres trabalhavam duro sem nada ganhar, como se fossem escravas.
Algumas sofriam abuso sexual de padres e outras morreram em circunstâncias
desconhecidas.
As roupas eram de empresas, órgãos públicos e
Forças Armadas— um negócio altamente lucrativos para as freiras.
O governo divulgou um relatório com a informação de
1922 a 1996 mais de 10.000 jovens tidas como fardo pela família, escola ou
Estado trabalhavam nas chamadas Lavandeiras Madalena. Para serem “purificadas”,
elas ficavam trancadas de seis meses a um ano nesses locais lavando e passando
roupas, além de trabalho de costura.
No relatório, o governo reconheceu que o Estado
irlandês encaminhou para essas lavandeiras 2.124 mulheres, 26,5% do total.
Também informou ter descoberto que cerca de 900 mulheres morreram nesses locais
de trabalho forçado — a mais nova delas tinha 15 anos.
O historiador Diarmaid Ferriter disse que as
lavanderias faziam parte dos mecanismos que a sociedade, Estado e ordens
religiosas usavam para tentar enquadrar as pessoas tidas como párias no modelo
de pureza mítica cultural da identidade irlandesa.
A imprensa tem publicado o testemunho de algumas
sobreviventes das lavandeiras. Uma delas, por exemplo, contou que sofre até
hoje de depressão por causa dos maus-tratos. “Eu me sinto em pedaços”, disse.
“Já tentei o suicídio várias vezes.”
Como representante do Estado irlandês, o primeiro
ministro Enda Kenny pediu desculpas pelo sofrimento das mulheres internadas nas
lavanderias Madalena, por endossar o estigma de “caídas” e por ter demorado
para assumir parte da responsabilidade pelas mazelas.
Para mulheres sobreviventes das lavanderias, só o
pedido de desculpas não basta. Elas querem ser indenizadas.
O filme de 2001 The Magdalene Sisters ("Em Nome de Deus", na versão para
o português) conta a história de quatro jovens que foram mandadas por seus
familiares para uma dessas lavanderias ou, como eram chamadas, asilos
católicos. As jovens são chamadas de “irmãs Madalena”. Três delas eram mães
solteiras e uma tinha sido estuprada.
O cineasta Peter Mullan se baseou em histórias reais
para mostrar a rotina de castigos (alguns
físicos) e de humilhações que as freiras imponham às “decaídas”.
Trailer do The Magdalene Sisters
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