GOVERNO SECRETO DO MUNDO
PARTE V
A MÍDIA DESONESTA
Por Luis Soares (Colunista),
em 03 de
Julho de 2012
NOTA DO BLOG: a despeito da publicação deste artigo
tenha sido feita em 2012, esse assunto continua atualíssimo, e o será enquanto
não unirmos nossas vozes e atitudes, e deixarmos de ser os 90% de alienados,
manipulados e controlados pelos 10% de espertalhões que nos mantêm escravos, há
milênios.
E decidi publicá-lo, já que a hipocrisia se repetiu
com o julgamento do “Mensalão”, às vésperas das eleições municipais de 2012,
condenando e prendendo apenas os implicados petistas e aliados do Governo do
PT, quando todos sabemos que Marcos Valério se infiltrou no Congresso pelas
mãos do PSDB de Minas Gerais. O que lamentavelmente assistimos foram os
corruptos de ontem, posando de bons moços, julgando e condenando os corruptos
de hoje.
Não estou me posicionando contra o julgamento e
prisão de quem cometeu delitos; meu questionamento é que apenas um dos lados
foi julgado e condenado pelas mesmas mãos corrompidas do passado. O que
assistimos foi uma manipulação política da pior espécie.
E o que fez a mídia?
Aquela que deveria apurar a verdade e divulgá-la à população?
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Eduardo
Guimarães: “Imperialismo midiático é o
maior problema da humanidade; entenda o poder inaceitável que foi dado a esses impérios de comunicação que é o
de hierarquizarem notícias, fatos e opiniões e até mesmo de escondê-los. Agora
mesmo, no Brasil, estamos vendo efeitos revoltantes do poder da mídia”.
Quem exprimiu a premissa que intitula este texto,
ainda que em outros termos, não foi qualquer um. Seu autor é o presidente do
Equador, Rafael Correa. Foi dita em visita recente que o mandatário fez ao
Brasil, durante entrevista que concedeu ao jornalista Kennedy Alencar, em
programa que este mantém na televisão aberta.
Correa disse ainda mais. Afirmou que, ao deixar o
poder, pretende se dedicar integralmente à missão de combater o que pode ser
chamado de imperialismo midiático, ou seja, o massacre comunicacional que um reduzido
contingente de impérios de comunicação produz ao esconder, minimizar,
aumentar, distorcer ou inventar fatos, além de, não raro, censurar
divergências.
A grande dificuldade que se apresenta hoje para
acabar com a figura supranacional que é a do “dono” da comunicação (algumas dezenas de grupos empresariais,
familiares ou não, que decidem o que a humanidade deve ou não saber) é a de
que esses impérios absolutistas se escudam naquilo que mais ferem: a liberdade
de expressão.
Para tanto, esses mega grupos empresariais
espertalhões procuram manter viva uma situação que vigeu nos primórdios da
imprensa, quando ela não tinha o poderio que tem hoje nas democracias e, assim,
era o último bastião contra o despotismo de Estado.
Leia mais:
Isso durou até que os setores beneficiários da
concentração de renda em todo o mundo descobrissem que melhor do que mandar
espancar ou assassinar jornalistas que quisessem questionar o poder econômico
seria cooptá-los, assenhorando-se da propriedade da imprensa e convertendo-a em
uma imensa indústria.
A possibilidade de censurar hoje uma imprensa que
dispõe de inúmeras plataformas para difundir seu trabalho é praticamente nula
não só nas democracias, mas, até, nas ditaduras. Na Primavera Árabe, as redes
sociais mostraram que não é mais possível impedir o livre fluxo de informações,
mesmo quando alguém tenta controlá-lo com mão-de-ferro.
Contudo, é evidente que a capacidade de comunicar
depende da dimensão do aparato comunicacional. Como blogs ou perfis em redes
sociais podem enfrentar impérios de comunicação que dispõem de TODAS as
plataformas possíveis e imagináveis em termos de transmissão de informações?
O poder inaceitável que foi dado a esses impérios
de comunicação, portanto, é o de hierarquizarem notícias, fatos e opiniões e
até mesmo de escondê-los. E como não há meios de questionar em tom semelhante o
que esses impérios dizem, pois, mesmo quando usam concessões públicas,
simplesmente se negam a dar espaço até a autoridades; a inundação de suas teses
sufoca qualquer divergência e pauta a agenda pública.
Agora mesmo, no Brasil, estamos vendo efeitos
revoltantes do poder da mídia. Recentemente, dois ex-ministros do governo Dilma
foram absolvidos nas investigações sobre denúncias da mídia de que foram alvos.
Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, e Orlando Silva, ex-ministro do
Esporte, foram derrubados sob denúncias de corrupção sem fundamento sólido.
No caso de Palocci, ainda havia um questionamento
de fundo moral sobre ter se aproveitado (como
tantos outros fizeram sem questionamento da mídia) do cargo de ministro da
Fazenda para auferir lucros em negócios após deixar esse cargo, mas, no caso de
Silva, não. Foi acusado por um meliante que, da época em que a mídia lhe
conferiu credibilidade para cá, passou de acusador a réu.
Palocci, porém, teve a legalidade de seus negócios
avalizada, ainda que restem os questionamentos morais. Todavia, para tais
questionamentos se sustentarem eles teriam que ser feitos a todos os outros
ex-ministros da Fazenda que enriqueceram muito mais do que ele, após deixarem o
cargo, sobretudo os ministros dos governos anteriores ao de Lula.
Já, o caso de Orlando Silva é mais grave. Foi
alvo de uma trama sórdida. A mídia transformou um bandido perigoso – por ter
problemas mentais evidentes – em um “herói” em luta contra o poderoso vilão
corrupto encastelado no poder em que o ex-ministro foi convertido. Esse golpe
fez o governo Dilma cometer um de seus maiores erros: imolar um inocente sem
razão plausível.
Quanto já custou ao país a politicalha
partidarizada e os chiliques ideológicos dos seus impérios midiáticos locais?
Ministérios foram paralisados, a agenda pública foi tumultuada por denúncias
que eram marteladas diariamente até atingirem o objetivo político-ideológico de
seus autores. E depois se descobre que não continham fundamento algum.
Políticas públicas deixam de ser ou são adotadas
por pressão do imperialismo midiático. É a comunicação que permite aos Estados
Unidos massacrarem mulheres, crianças e velhos de países longínquos “em nome da
democracia” e que transforma a reação a esses massacres em “terrorismo”. Tudo
graças à interpretação que os impérios maléficos de comunicação dão aos fatos.
A fome, a miséria e a injustiça que ainda flagelam
parte imensa da humanidade sustentam-se nas versões dos fatos que são contadas,
na falta de pluralidade na comunicação.
Outro exemplo: no fim de semana passado, estive em
Juiz de Fora (MG) para receber uma homenagem de movimentos negros sobre a qual
ainda vou escrever. O envolvimento deste blog com a luta dos negros por
igualdade, no Brasil, mostra o descalabro que se abate sobre essa maioria da
população exclusivamente por conta do imperialismo midiático, que tem cor.
Movimentos negros de todo país questionam a
“invisibilidade” do negro na mídia, o fato de a televisão e a propaganda
brasileiras terem um filtro “racial” que retém o negro e o mestiço em benefício
da “raça pura”, de ascendência indo-europeia, que domina a imagem do povo
brasileiro no exterior, fazendo com que pareça que é, predominantemente,
branco.
O resultado do racismo midiático é o de que os
negros adquirem uma imagem marginal à qual o mercado não quer se associar. A
propaganda, assim, usa a maioria negra como exceção quando, na verdade, é
regra. E usa a minoria branca como regra apesar de ser exceção.
Dessa forma, a discriminação racial praticada via
sub-representação do negro na mídia produz miséria e injustiça social. Os
negros ganham menos, estudam nas piores escolas, moram nos piores bairros, são
alvos preferenciais da violência urbana, tratam-se nos piores hospitais etc.,
etc., etc. E quem produz esse estado de coisas é a comunicação.
E a política internacional? Um exemplo: ação
integrada da mídia de vários países tenta legitimar um processo que depôs um
governo, este sim, legitimamente eleito. E sem o mínimo processo legal e
direito a defesa, em processo que durou algumas poucas horas.
E o que é pior: sabe-se que o risco de meia dúzia
de grupos empresariais de comunicação encurralarem os governos dos países do MERCOSUL
não é desprezível. Só o que impede, de verdade, a capitulação é a Argentina.
E ainda que na imprensa escrita se encontre uma ou
outra manifestação lúcida sobre o golpe no Paraguai, na televisão o que
predomina é o apoio a esse processo espúrio, antidemocrático e escandalosamente
ameaçador à democracia na região.
Chega-se, enfim, ao cerne de tudo: a televisão. A
dobradinha que faz certa imprensa escrita com a televisão é o que torna potente
o partidarismo e o viés ideológico desses jornais, revistas e mega portais de
internet. Como, não raro, imprensa escrita e eletrônica pertencem aos mesmos
donos – que não enchem um restaurante –, não há debate de peso no país.
Ainda assim, dirão, a vontade eleitoral dos
impérios de comunicação de países como os do MERCOSUL, por exemplo, vem sendo
derrotada ano após ano. Sim, é verdade. Mas os países deixam de funcionar a
contento porque esses impérios ainda conseguem paralisá-los com seus caprichos.
Alguns membros do governo Dilma, desprovidos de
visão histórica, atribuem à tecnologia o poder de mudar essa situação
insustentável. Por essa tese, a tecnologia aumentará ainda mais o poder de
difusão de informações à revelia do que possam querer grandes grupos econômicos
como os que controlam a grande mídia pátria.
Subestimam o poder econômico. As novas plataformas,
o avanço da tecnologia que permite, cada vez mais, que um cidadão comum e
independente como este que escreve difunda informação a milhares não mudam o
fato de que quem tem mais dinheiro pode gerar tsunamis de informação que
engolfam as marolinhas da blogosfera e das redes sociais.
Enquanto este e outros países em desenvolvimento
conseguirem manter no poder governos que trabalhem para reduzir a miséria e a
desigualdade, a educação poderá fazer com que o povo vá votando, cada vez mais,
em causa própria. Todavia, as variáveis que podem reconduzir ao poder os que
querem impedir que o povo desperte,
são imensuráveis.
Uma crise econômica internacional que deprima a
economia além do que estamos vendo pode pôr água no moinho da elite excludente,
enganando a parcela ainda descomunal de incultos e desinformados que hoje só
vota em causa própria por conta da percepção de que está ganhando. Se tal
percepção mudar, o povo não terá capacidade para entender os fatos e, assim,
será seduzido pelo discurso reacionário.
A versão da mídia sobre regulá-la equivaler à
“censura”, porém, é extremamente frágil. Bastaria um debate público com boa
visibilidade para desmontá-la sumariamente. O brasileiro não sabe, por exemplo,
como são as legislações sobre comunicação nos países desenvolvidos. Bastaria
relatar.
O alerta do presidente Rafael Correa, portanto, bem
que poderia gerar a criação de um organismo supranacional que trabalhe para
desmontar a versão farsante sobre ser “censura” querer que os impérios
midiáticos se tornem plurais. E que denuncie países como este, nos quais a
comunicação é um latifúndio.
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UMA DAS MAIORES VÍTIMAS DA MÍDIA